04 junho 2007

A moça e seu jardim


Sentada diante de mim, cruzava as longas pernas enquanto segurava o copo entre os dedos finos. Na outra mão, queimava esquecido um cigarro.

Usava pesados brincos que desciam pelo pescoço e balançavam caóticamente quando ela toda se ria.

Falava muito, e no seu falar tentava afogar o peso do meu olhar sobre seu colo.

Pensava que ao me contar suas mentiras ela ia me conduzindo pelas mãos ao largo de seu coração.

Era como uma criança nua, que ao tapar os olhos se pensa invisível.

Em um dado momento desistiu, se rendeu, deixou quietos os brincos e os olhos sobre os meus.

E entendeu que quanto mais devaneava, mais me escancarava o portão de seu jardim dos medos, neuroses e taras.

3 comentários:

Anônimo disse...

A moça da foto parece a Táia... (belo texto!)

J.M. de Castro disse...

Bom também. Parece que é a continuação espiritual do livro 'Mínimos, múltiplos e comuns" do João Gilberto Noll, conhece? Vale apena ler esses microcontos. Os seus e os dele também. Beijos

Maíra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.