28 agosto 2009

Memória


Nas minhas memórias ela era verde,

e tinha bordas difusas.

No mais era normal.

A voz, arrastando afagos pra dentro de mim,

os cabelos, a textura da pele, o cheiro meio doce...

Todos os sentidos a faziam real.

Só sua imagem não amadurecia,

sempre o verde, ora claro, ora musgo, sem bordas,

indefinido verde dos dias passados.

Roupa de cama

Tudo tem cheiro de estréia.
Da roupa de cama, ao abraço,
Tudo tem o tamanho que pudermos inventar.
E sustentar. Alçando no ar, leve como brisa,
nossa paixão bandeira.
Nosso Bandeira épico,
tudo tem gosto de acaso.
Presente da vida, preso entre dedos etéreos
da vontade louca de viver mais um pouco.

10 agosto 2009


Crio contorno pras coisas.

Muitas vezes são contornos apertados,

de onde tudo, vez por outra, transborda.

Esperando que todas as coisas tenham que decidir entre dentro ou fora,

gosto de ver tudo entornar.


Assim então,

crio entorno paras coisas.

Tempo fechado

O tempo fechou em tons de cinza e chumbo,

Logo, o tempo choveu desfazendoo céu em gotas de horas pesadas.

As gotas frias que me alcançam, tem gosto de memória.

Nome

Coisa que mora dentro do dentro do oco

Coisa que não me acena

Coisa que não me permite arrombos de encantamento



Coisa com meu nome nas costas.

A meina que guarda as mãos, encara olhos de sonhos e meias bocas de medo.
Lê nas linhas do senho, sente o urgente do hálito.
Mas guarda, inalcansáveis, as suas mãos.


Coleção

Tenho medos novos e velhos.
Tenho mui bem guardados, medos de todas cores e tamanhos.
Gosto de conhecer novos medos,
Gosto de apresentá-los aos antigos.
Eles costumam de entender bem.



Quero dias de preguiça,
noites de urgência,
e urgentemente manhãs de estréia.

20 abril 2009

eterno retorno

andava pela cidade procurando perder-se
angustiava-se
tomava caminhos inéditos tentando não encontrar familiaridades

mas conhecia até os lugares onde nunca estivera
tudo lhe lembrava passagens não vividas
gosto de déjà vu em cada sombra frondosa, casa vazia, muro de era, banco coberto de orvalho

tudo ja havia sido cenário de sua vida não consumada
e nada lhe trazia saudade.

27 fevereiro 2009

O leque

Quanto vale o seu amor?
Quanto é mensurável um sentimento?
Que palavras encerram um desejo?
É possivel que nada jamais possa ser tão grande quanto uma vontade?

Falo, e meço e sinto, e volto a perguntar:
o que você faria por todas as suas vontades?