08 novembro 2010

Quarto e sala sem varanda


Saiu batendo a porta,
assim por nada, talvez só pra ver gemerem janelas em solidariedade.
Fato é que sumiu, dias, meses, uma ciranda de horas...
Morreram as plantas, não sem antes ficarem todas amarelas, pintadas de sede.
Amontoaram-se teias nos cantos cegos, e a poeira fazia pátina nas paredes.

E o apartamento, antes ventilado, com perfume de menina e flor,
foi tomando jeito de depósito de esquecimentos.
O que antes era um lar, agora merecia pena, muita pena...

28 agosto 2009

Memória


Nas minhas memórias ela era verde,

e tinha bordas difusas.

No mais era normal.

A voz, arrastando afagos pra dentro de mim,

os cabelos, a textura da pele, o cheiro meio doce...

Todos os sentidos a faziam real.

Só sua imagem não amadurecia,

sempre o verde, ora claro, ora musgo, sem bordas,

indefinido verde dos dias passados.

Roupa de cama

Tudo tem cheiro de estréia.
Da roupa de cama, ao abraço,
Tudo tem o tamanho que pudermos inventar.
E sustentar. Alçando no ar, leve como brisa,
nossa paixão bandeira.
Nosso Bandeira épico,
tudo tem gosto de acaso.
Presente da vida, preso entre dedos etéreos
da vontade louca de viver mais um pouco.

10 agosto 2009


Crio contorno pras coisas.

Muitas vezes são contornos apertados,

de onde tudo, vez por outra, transborda.

Esperando que todas as coisas tenham que decidir entre dentro ou fora,

gosto de ver tudo entornar.


Assim então,

crio entorno paras coisas.

Tempo fechado

O tempo fechou em tons de cinza e chumbo,

Logo, o tempo choveu desfazendoo céu em gotas de horas pesadas.

As gotas frias que me alcançam, tem gosto de memória.

Nome

Coisa que mora dentro do dentro do oco

Coisa que não me acena

Coisa que não me permite arrombos de encantamento



Coisa com meu nome nas costas.

A meina que guarda as mãos, encara olhos de sonhos e meias bocas de medo.
Lê nas linhas do senho, sente o urgente do hálito.
Mas guarda, inalcansáveis, as suas mãos.


Coleção

Tenho medos novos e velhos.
Tenho mui bem guardados, medos de todas cores e tamanhos.
Gosto de conhecer novos medos,
Gosto de apresentá-los aos antigos.
Eles costumam de entender bem.