20 junho 2007

Tábua Corrida


Apagou a luz da sala, deixou apenas que o pálido facho que vinha do poste da frente iluminasse o chão de tábuas gasto.

Tirou os sapatos e os colocou no canto, virados contra a parede, não queria nem a eles como testemunha.

Olhou o cômodo escuro, as paredes nuas e mobílias rotas. Andou com os pés descalços a escrever círculos na poeira fina e fria.

E foi assim, com movimentos suaves, ensaiando uma evolução de passos e giros lentos pela sala. Tocando com os dedos abertos o ar úmido e denso que dançava contrariado arrastado por seu vestido.

Ela testava a dimensão do cômodo com o movimento do seu corpo e ia de encontro às paredes e descia por elas e subia novamente e voltava ao chão.

Agora ela podia fechar os olhos e dançar pra dentro, e de olhos fechados ela se via dançando, não naquela sala escura mas em uma sala clara sem tetos e sem paredes que a tocassem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sensual e poético.